terça-feira, 4 de junho de 2013

O HOMEM QUE MATOU O DIABO

   Uma velha aldeia. Um artista. Um ladrão de arte. Uma mulher amorosa. Outra mulher estouvada. Um pobre filho de Deus que parte à sua sorte ao encontro da vedeta, Máxima, atriz na cidade-luz. Percorre as imensas planícies de Espanha, esfarrapado, desditoso, sem temer a miséria. Pelo caminho conhece o cárcere onde encontra D. Gonçalo Prieto que lhe indica a melhor maneira de fazer o caminho de modo a não lhe faltarem a comida, a bebida e o inprescindível repouso com o minímo de conforto.
   Tratado da alma, perpassa na obra o conflito entre o clericalismo nas maneiras e a ânsia de conhecer mundo, experienciar a novidade, viver uma vida de prazer e renunciar à escravatura de uma existência simples e frugal  com apelo ao desprendimento e aniquilamento dos sentidos. O artista luta contra os seus demónios interiores cuja esconjura só será possível com o desfrute do fruto desejado. E sempre vão surgindo umas tâmaras apetitosas para deleite de um corpo e perda de uma alma. No fim lá estará ela, Máxima, sempre ela, que o rejeitara mas que sucumbe ao poderio deste adonis triunfal.
   Rico de discrições, discurso amplo que honra o linguajar das beiras, retrato fiel do modo de ser beirão serve de instrução e de deleite ao mais nobre literato. De mensagem rica, sem beatices às quais repugna mas com um sólido fundo moral, Aquilino Ribeiro escreveu simultâneamente uma estória de amor e um ensaio de filosofia numa prosa que faz juz aos nossos mais ilustres mestres da pêna. 


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