domingo, 28 de abril de 2013

LABIRINTO DA SAUDADE

   Eduardo Lourenço escreveu esta obra em 1978, altura em que Portugal era muito diferente. O que significava então e o que significa agora ser-se portugues e como então e agora os portugueses se vêem a si próprios é uma das preocupações do autor na sua demanda pela alma lusitana. Portugal mudou muito entretanto mas alguns dos nossos estereótipos culturais permanecem os mesmos. O fatalismo, o virar-mo-nos para dentro e a nossa recusa em nos projetarmos no nosso futuro que são os outros.
   Composto por textos magníficos, alguns críticas publicadas em jornais, vislumbramos através de vultos da nossa história e literatura, os vícios, os bloqueios e os dramas que são os nossos e que refletem a nossa ansiedade e capacidade de superação e desenrascanço. Vários dos nossos melhores pensadores e o seu contributo para a compreensão da razão de ser do nosso percurso e da nossa cultura e a originalidade do ser portugues permanentemente emparedado entre a identidade que lhe é própria e a ameaça das margens que o oprimem.

sábado, 13 de abril de 2013

O ALEGRE CANTO DA PERDIZ

   Esta é a estória de Delfina, a mulher de voz de perdiz. A estória de uma preta que sonhou sair da escravidão e da miséria na qual se encerrava toda a sua vida. Mulher de muitos amores. Amores e desamores como só as grandes mulheres. Partilha a cama entre um preto e um branco. E legiões de outros admiradores que se deixaram enredar pelos seus feitiços. O José dos Montes, que a adora e a trata como uma raínha, sua loucura e sua perdição. E o Soares, opressor, colonizador, nada pode perante as insinuações de Delfina e a magia dos curandeiros, intérpretes da voz dos antepassados.
   O Moyo morre ante as facadas do José, tornado sipaio. Os concelhos do ansião não demovem a ganância e a vontade de ascensão social do marido de Delfina. E prevê a desgraça. Foi ela que transformou o marido num farrapo e vai também sujeita-lo à humilhação de gerar uma filha mulata. José caminha pela vida como um bêbado. Perdera a sua Delfina. A obstinada preta recorre à magia do Simba que, após hesitar, aceita um pacto com ela. Mas não sem levar a filha preta de Delfina, a maria das Dores, que a sua mãe despudoradamente lhe oferece. Ficará ausente durante muito tempo.
   Entretanto o Soares dá a Delfina uma enorme prole. E inundado de saudades de casa regressará à metrópole e deixará Delfina com os seus filhos entregue à sua sorte. A mulata Jacinta interroga insistentemente a mãe sobre o destino da irmã. Maria da Dores foge do Simba e vagueia durante anos perdendo os filhos que entretanto gerara e levando uma existência de loucura e solidão. Vinte e cinco anos depois reencontram-se o Simba com ela e os restantes filhos, netos de Delfina. José dos Montes que vivia só depois de ter sido escorraçado pela esposa reencontra-a a ela, aos filhos e netos num abraço enternecedor.
   Vão-se aos poucos as recriminações dolorosas que inicialmente estiveram presentes e celebra-se a harmonia, o amor e o perdão que forjaram a nação do futuro.
   Com a independência veio a vitória das muitas Delfinas, Marias Das Dores , Jacintas e tantos outros irmãos no sofrimento. Estas foram as pessoas, os heróis e os empreendedores que tornaram possível a existência no futuro de um Moçambique unido, próspero e digno onde sejam superados os estigmas que caraterizaram a sociedade durante tantos anos.