segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

ALEGRIA BREVE



   A aldeia despovoada perde-se no tempo. O homem enterra a sua mulher no quintal. A omnipresença dos sons da noite e as memórias passadas povoam-lhe os sentidos. A natureza impõe a sua deriva. O professor Faria, «a desgraça» que acontecera à sua mãe, recebeu na escola uma visita de um desconhecido. Querem fazer uma exploração mineira na aldeia. O padre Marques já sabe de tudo. A mudança nos hábitos dos aldeãos será enorme.
   Mas a mineração é um engano. A aldeia, que a principio evoluíra, vê desaparecer pouco a pouco a seiva que á a sua vida. Vão-se os mineiros, depois os jovens e finalmente os velhos. Já não há lugar para a família decrépita do professor. nem para as disputas filosóficas com o padre. Nem o erotismo com as mulheres uma pura celebração do corpo. Já não se vê ninguém nas ruas, os velhos que se arrastavam, as mulheres que eram a alegria daquele espaço agora sombrio e abandonado e as crianças que povoavam a escola e enchiam a aldeia com os seus chilreios de vida. A sua família colapsou. Os seus amigos ou morreram ou emigraram. As habitações são agora um descampado. O teto da igreja caiu. As silvas cobrem as ruas e ouvem-se os uivos dos animais mais repelentes.
   E o professor recorda tudo. Perdido. Um deus inútil no meio da desolação.