quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O AMOR EM TEMPOS DE CÒLERA

   Romance escrito por Gabriel Garcia Marquez que relata as peripécias dum homem que passou boa parte da sua vida obcecado com uma jovem e termina com o reencontro final dos dois já na velhice.
   A história começa com a morte dum velho amigo do dr. Urbino, agora casado com Fermina Daza e por quem Florentino Ariza sempre nutriu uma paixão avassaladora. O enredo recua até à juventude do médico e da sua esposa. Conta as aventuras e desventuras deste até se fazer médico, um reputado clínico dos mais intervenientes e socialmente considerados da cidade. A forma como convenceu a fria Fermina Daza a tornar-se sua esposa e a vida de luxo que ambos tinham levado desde então. Por seu lado, Fermina Daza era a filha dileta de um orgulhoso comerciante que tenta subtraí-la às garras de Florentino Ariza, desde os tempos em que ele a conhecera, ainda jovem no jardim situado nas imediações do severíssimo colégio que esta frequentava. A seguir foram décadas de cartas, encontros fortuitos e sonhos que o passar dos anos não destruiu. Ariza teve outras namoradas com as quais se envolve em relacionamentos tórridos, neste livro erótica e profusamente descritos, mas nenhuma delas tinha o fulgor e o charme de Fermina Daza. Por fim, já na velhice após cinquenta e um anos e nove meses de persistência o jovem sedutor transformado num velho caduco consegue finalmente os seus propósitos.
   Num passeio num vapor da empresa que herdara os dois idosos amam-se abandonando-se um ao outro sem questionarem o futuro nem se preocuparem com a vida.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O RELATIVISMO

   Quando pela primeira vez abri este livro, num rápido relance receei que fosse ler nele as habituais banalidades que usualmente se escrevem sobre esta temática. Mas um olhar atento ao seu conteúdo e à abordagem que nele se faz do mais relevante núcleo teorético da atualidade desfez todo o meu temor.
   De facto, embora se tratando de um arrazoado de cariz básico o seu autor não se deixou ficar pela superficialidade.
   Há vários tipos de Relativismo. O Relativismo normativo, baseado nas aproximações teóricas que, recuando aos antigos gregos têm em Montaigne, David Hume e Max Weber os seus maiores expoentes e remeteria no primeiro para as responsabilidades da socialização e das convenções culturais arbitrárias as nossas aproximações à realidade; no segundo para a ideia de um abismo que separaria o positivo do normativo não podendo a adesão a juízos normativos derivar de uma fundamentação objetiva. Max Weber, por seu turno, falou numa «guerra dos deuses» e no «politeísmo de valores». É claro que pode objetar-se que uma perspetiva culturalista esquece a distinção entre costumes, normas e valores e que uma qualquer abordagem normativa assenta sempre em principios indemonstráveis mas que podem ser considerados uns melhores do que outros e que dão todavia lugar a interessantes programas sociais.
   O Relativismo cognitivo tem como maiores expoentes Thomas Kuhn que postulou que os processos de seleção das ideias cientificas têm sobretudo um caráter irracional; e Karl Popper que falou nos critérios de distinção entre ciência e não-ciência fazendo radicar aquela na refutabilidade. Podemos dizer que este pensador não captou a verdadeira essência desta problemática pois existem teorias irrefutáveis de cuja cientificidade ninguém se atreve a duvidar. Por outro lado os critérios de cientificidade também devem contemplar a noção de utilidade. Porém muitos não crêem na total objetividade das construções cientificas. As mais importantes objeções que são aduzidas a este relativismo prendem-se com a distinção entre curto e longo prazo e com a argumentação que a faz depender da relação entre os critérios de cientificidade e a existência da própria cientificidade.
   Para explicar as crenças humanas aferindo o seu papel no processo de conhecimento são estas subdivididas taxonómicamente em três tipos consoante a sua relevância e forma de validação. A perspetiva cognitivista encara-as como o efeito de razões chamando a atenção para a transubjetividade e apresentando inúmeras vantagens face às teorias irracionais das crenças. Em última análise conclui-se que todas as crenças (cientificas e ordinárias; normativas e descritivas) derivam dos mesmos pressupostos e têm a mesma natureza. Tal facto desacredita um dos fundamentos do relativismo.
   A crítica do passado subjaz a todas as sociedades e em todos os lugares e frequentemente se encontra sujeita a oscilações de caráter subjetivo redundando a maior parte das vezes em análises facciosas carregadas das pulsões do observador. Este encara o observado de outras épocas e culturas sociocentricamente, eivado de obnubilosos preconceitos. Urge encetar uma análise descentrada na qual não se percam de vista as fragilidades igualmente evidentes e os aspetos míticos que também comporta a ciência do Homem atual. Isto não significa que por vezes não devam ser tidos em conta outras consequências práticas sob pena de tolerarmos o absurdo.
   Do século XX aos nossos dias forjaram-se duas espécies de teorias da evolução moral, social e política: o modelo mecânico (que encara as ideias como variáveis dependentes, mais a explicar que explicativas) e o modelo racional (que trata as ideias como variáveis independentes e por isso explicativas). É este último que explica a evolução moral das sociedades ao enquadrar o individualismo e a liberdade de pensamento na raíz do progresso normativo. A produção e seleção de ideias novas faz-se em função do individualismo tal como era defendido por Durkheim. Weber fala-nos na prossecução de um programa e na racionalização difusa à luz de um novo kantismo. Os progressistas desenvolvem ações no sentido de estebelecer regras mais eficazes visando um sentimento de legitimidade e de validade. Os direitos de terceira geração implicam a distinção entre racionalidade instrumental e axiológica. É claro que esta racionalização não conduz à uniformização.
   A evolução moral, social e politica pressupõe as noções de espectador imparcial e racionalidade instrumental e axiológica. O curto, médio e longo prazo e o seu devir giram em torno da racionalidade difusa. O bom relativismo enquadra-se nesta problemática à luz do respeito pelo outro. O mau relativismo regista a diversidade das normas e dos valores mas não tenta compreende-los. Desta compreensão depende o futuro próximo da humanidade.

  

sábado, 13 de outubro de 2012

DIÁLOGOS SOBRE A RELIGIÃO NATURAL


   David Hume, um dos mais notáveis filósofos empiristas do século XVII, escreveu este magnífico livro discorrendo sobre o valor, a validade e o exercício da religião. É assim uma das mais famosas das suas obras onde ele avalia sobretudo o argumento do desígnio como demonstrativo da existência de uma deidade. São mais de cem páginas em forma dialogar em que se assumem como protagonistas FÍLON, CLEANTES e DEMEA.
   O autor critica a possibilidade de nos basearmos neste argumento para afirmar um deus sumamente bom, poderoso e omnisciente superior e anterior a todas as coisas. São imperfeitos os instrumentos racionais de que nos servimos nas nossas reflexões e meditações no entanto afiguar-se-ia absurdo rejeitar estes mesmos instrumentos que são aqueles de que nos podemos valer. Não se constitui solução para o aparente problema da sua limitação.
   A argumentação de Hume tem como base a tentativa de demonstrar a fraqueza da analogia neste argumento e as contradições e incongruências desse raciocínio. É errado tornar-mo-nos o modelo da deidade. Debate-se o antropomorfismo e a existência de uma ou várias deidades, ambas hipóteses possíveis. Encara-se como um sofisma dificultoso o argumento da regressão «ad infinitum». Apresenta-se objeções relativamente à hipótese de se considerar o universo semelhante a um animal ou corpo organizado movido pelo princípio da vida e do movimento idêntico. Os intervenientes discorrem se o universo provém, como qualquer animal ou vegetal, da geração ou da vegetação e se isso prova o desígnio inteligente. Considera-se a cosmogonia epicurista encarando no entanto a matéria como finita mas tem-se por frágil a analogia. Rebate-se por inconsistentes os argumentos da existência necessária e da explicação suficiente. Reflete-se, finalmente, sobre a miséria humana e o problema do mal. É apresentado mais uma vez o paradoxo de Epicuro.
   Sem qualquer conclusão plausível envereda-se pela suspensão do juízo.