sábado, 30 de março de 2013

A VIDA FELIZ

   Os Estoicos, nos quais se inclui Séneca, foram a escola filosófica que protagonizou uma das mais interessantes abordagens do que deve ser uma vida plena de realizações. Situam a felicidade na austeridade de principios e defendem um conceito de bem que em muitos aspetos lhes sobreviveu e influencia ainda as conceções morais na atualidade. Séneca explana o que para si deve ser uma vida feliz e como se devem processar as relações com os demais. O filósofo ocupa a última parte da obra repudiando os ataques dos seus detratores que vêem nele uma espécie de fala-barato que prega uma moralidade e leva uma existência em tudo contrária àquilo que postula. O brilhante pensador refuta as acusações de que é alvo e reitera a verdade do seu pensamento e a autenticidade na observância daquilo que propõe.
   Livro breve, leitura agradável, um dos marcos do pensamento clássico. Imprescindível para um domínio das bases da filosofia e resistente às poeiras do tempo.

domingo, 10 de março de 2013

PÉRICLES

    Foi o principal arauto da primeira experiência democrática tal como foi ensaiada no século V a.c.
   Representou um progresso para os padrões da época esta experiência embora encerrasse em si perplexidades e contradições. Não era unicamente por conceder os direitos de cidadania a uma pequena minoria ou possuir escravos que a democracia grega resultou imperfeita. O ascendente de Péricles e o domínio que exercia sobre as assembleias que manipulava a seu bel-prazer e nas quais desempenhava quase todas as magistraturas de importância fazem da democracia ateniense uma caricatura face aos conceitos atuais.
   Agradável de ler contem o essencial sobre o século de Péricles. Recomendo.

segunda-feira, 4 de março de 2013

SHAKESPEARE

   Sabe-se muito pouco sobre este personagem que terá sido o maior ou um dos maiores dramaturgos de todos os tempos. Desconhece-se o que fez em boa parte da sua vida, por onde andou, que salas frequentou ou se as peças que se lhe atribuem são realmente suas.
   Foram contadas até as palavras e as vírgulas das suas obras, não há autor mais estudado. É enquadrado no ambiente politico, cultural e social da sua época. O seu pai, John, parece que era um negociante, chegou a comerciar lãs e foi várias vezes multado por usura, crime grave naquele tempo. Deu a William uma educação esmerada. A escola de Stratford era reputada mesmo para os padrões da época. Aquele que viria a ser um famoso dramaturgo era um bom vivan que apreciava as coisas boas da vida. Não se sabe se caçava ou não nem se sabe ao certo o nome exacto da sua esposa que terá casado grávida, nada de muito anormal quando existe a séria possibilidade de se morrer muito jovem. As pessoas esforçavam-se por viver depressa e poucas chegavam à velhice.
   Londres no século XVI era uma cidade atavicada e suja e nela a vida corria caótica como numa urbe moderna. A catedral era um antro de meliantes, servia de latrina e de recreio para as crianças. A zona dos teatros, extra-muros, era imunda e convivia com nauseabundas fábricas e oficinas. Estes tinham má fama mas a raínha resistia em proibi-los pois também os apreciava.
   Muitos especulam se Shakespeare teria sido um cristâo que recusava o novo rito, o que na altura podia ser uma imensa fonte de chatices, e falam em católicos na educação do jovem William.
   Sobre os atores era exercido um forte controlo. Não podiam ofender a raínha ou a nobreza e as peças estavam sujeitas à aprovação do «master of revels» para serem levadas à cena sendo propriedade da companhia e não do seu autor. Os artistas ganhavam mal e a profissão de ator não conferia respeitabilidade intelectual.
   A primeira referência a Shakespeare aparece num panfleto de Greene em termos pouco elogiosos que revelam despeito e inveja. Eram dedicados por vezes poemas e outras obras a aristocratas como forma de pedir um patrocínio mas nem todos aqueles que valeram a Shakespeare possuiam uma boa reputação. A vida no teatro não era fácil e algumas companhias se dissolveram por causa da peste e de infortunios financeiros. Poucas sobreviveram.
   Há dúvidas sobre com que peça Shakespeare se iniciou. Essa parece ser de facto uma questão insanável pois muitas peças tinham um segundo título. Mas pode dizer-se que, no que respeita a certos aspetos, a sua obra tinha pouco de absolutamente original. Por vezes o dramaturgo apropriava-se de nomes, enredos, diálogos e títulos. mas quase todos os escritores na época o faziam visto que tudo isso era considerado património comum.
   Mas a sua originalidade é já notória no que concerne às partes intrinsecas da sua vasta obra. Na verdade as peças de Shakespeare não estão sujeitas a espartilhos nem seguem as convenções teatrais que se estão a formar. Nelas ele usa versos brancos, versos rimados e prosa. Muitas falas e expressões são polissémicas e dão origem a confusas e demoradas interpretações. Em algumas áreas Shakespeare revela importantes conhecimentos. Fala no movimento orbitral dos astros muito antes de Galileu e sabe exprimir-se em francês. Emprega termos de medicina, direito e botânica. Noutras revela um saber básico incorrendo em anatropismos inúmeras vezes. Consegue ser muito criativo pois faz trocadilhos numa escrita que, na altura, se carateriza por uma grande instabilidade gráfica e introduz centenas de neologismos que criaram raízes e enriqueceram de sobremaneira a lingua inglesa.
   Em 1596 Shakespeare já gozava de fama. Por esta altura morre o seu filho Hamnet e é também aí que ele cria as suas personagens mais cómicas. Adquire então um brasão de armas e compra uma grande moradia. A vida corre-lhe bem mas é feroz a concurrência entre as companhias. O sucesso continua durante o reinado de Jaime I, personalidade um tanto canhestra mas que protegeu muito a cultura e firmemente o defendeu. Dá-se a Conspiração da Pólvora, evento referenciado em algumas das suas peças. Além do teatro os seus sonetos são motivo de polémica.
   Após a sua morte superabundam as questões sobre a sua identidade e a originalidade do First Folio que se encontra pejado de emendas, aditamentos e supressões e sobre ele se fizeram as mais imaginosas falsificações. Nada disto consegue abalar a credibilidade daquele que ficou para a história como um dos maiores génios literários de sempre.