sábado, 31 de outubro de 2015

DE GAULLE



   Nasceu em Lille no dia 22 de novembro de 1890 e foi um homem do norte, região de labor e portadora dos valores mais genuínos da França tendo sido educado num ambiente de fervor religioso,  patriótico e cultural. Seus pais eram monárquicos e católicos. Desde cedo soube dar valor ao rigor e à austeridade de comportamentos. Em França por volta de 1900 abundavam em França os valores militaristas e nacionalistas numa época de confronto com a Alemanha por causa das possessões no norte de África. De Gaulle era frio, possuía uma memória extraordinária e depressa se distinguiu dos seus colegas.
   Seguiu a carreira das armas. Acolheu bem a guerra em 1914 onde viu uma oportunidade de se evidenciar. Foi feito prisioneiro mostrando durante o cativeiro uma notável presença de espirito. Aí teve o ensejo de se cultivar através da leitura. Esteve numa missão na Polónia entre 1919 e 1921. Publicou quatro livros sobre assuntos ligados à tropa levantando contra si uma série de apupos. No mais importante defende a existência de um exército profissional. Tentou promover as suas ideias tanto entre pessoas de direita como de esquerda, extremistas ou não.
   A bondade de um regime politico para De Gaulle passava pelo contributo que este desse para a grandeza de uma nação. Censurou a passividade da França e das restantes democracias perante os nazis e foi apanhado quase desprevenido pela invasão alemã rápida e avassaladora como ela se desenrolou. Tentou aplicar as suas ideias sem muitos resultados devido às condições que tinha e ao material que lhe foi confiado. Quando Reynaud foi substituído por Pétain, um partidário do armistício  a 16 de junho de 1940 partiu para Londres sozinho. Tentou então congregar à sua volta todos os bons franceses e passou a reivindicar o estatuto de legítimo representante da França livre. Passou a combater ao lado de Inglaterra nas colónias e onde fosse necessário.
   Em 1941 De Gaulle cria um comité nacional mas nele mantem toda a sua autoridade. A entrada dos americanos na guerra trouxe novos dissabores ao grande caudilho. Roosevelt desconfiava dele e nas ações aliadas no norte de áfrica De Gaulle foi excluído. A resistência que os aliados encontraram foi enorme e só terminou quando Darlan, um dos generais de Pétain, se passou para o seu lado. Aquele viria a ser assassinado e substituído no norte de áfrica por Giraud. O presidente americano resolveu juntar os dois generais desavindos mas De Gaulle não compareceu. O caudilho considerava a atitude do presidente americano uma inaceitável ingerência e por isso declinou o convite. De Gaulle tinha as suas razões para desconfiar das intenções dos americanos pois já havia rumores do estatuto que se ia atribuir à França depois da guerra. O general queria marcar a sua posição e fazia bem.
   Ninguém conhecia as ideias de De Gaulle. No início o caudilho parecia desconfiar da república, não mencionava a palavra «democracia» e só mais tarde parece ter aderido com segurança à trilogia da «liberdade, igualdade e fraternidade». O movimento da resistência descobriu De Gaulle e o general recebeu em Londres indivíduos como Jean Molin, o sindicalista Christian Pineau e o comunista Fernand Grenier. Todas estas figuras contribuíram para edificar o prestigio do general, tornaram-no conhecido no interior de França e fizeram diminuir os receios de Churchill e Roosevelt que passaram a ter com ele uma atitude mais aberta. Roosevelt tinha ainda grande desconfiança em relação ao general e os americanos planeavam tratar a França com um país vencido. Quando se deu o dia D a popularidade de De Gaulle surpreendeu os americanos. O grande caudilho conseguiu estabelecer os seus representantes nos vários setores do país. O plano americano acabava de falhar.
   De Gaulle desfila em Paris. O general tentava demonstrar a sua total legitimidade como leader da resistência e do povo. A França vivia num caos económico. Cedo surgiram duas posições dentro do recém reconhecido governo provisório. Uma, conotada com alguma esquerda, defendida por Pierre Mendès France advogava a austeridade. René Pleven dizia, por seu turno, que tal seria politicamente incomportável. O caudilho decide-se a favor deste último e Mendès France demite-se. Os colaboracionistas sentiram de seguida a mão pesada da justiça mas De Gaulle quis que houvesse o máximo de clemência. A continuação da guerra fez mossa entre os aliados. O general tenta entender-se com Estaline mas os seus esforços não dão fruto. Seja como for, conseguiu um tratamento bastante favorável para a França. Os resultados de Ialta e Postdam foram satisfatórios. De Gaulle queixa-se que os ingleses querem o médio oriente só para eles e protesta. A França também tentou equilibrar a situação na Indochina e nomeou o almirante Thierry D' Argenlieu para esse efeito. O objetivo era conservar intacto o território gaulês.
   De Gaulle, de início desconfiado, acaba por reabilitar os partidos ligados à derrota de 1940 mas recusa-se a apoiar qualquer um. As eleições estão à vista.
   A primeira constituição do pós-guerra foi rejeitada num referendo em 1946. Teve que se fazer outra que, esta sim, foi aprovada embora por escassa margem. Desgostoso com o rumo dos acontecimentos De Gaulle funda o RPF para conseguir a constituição que queria. Foi nas eleições municipais que o novo partido se conseguiu evidenciar. O general aceita o plano Marshall e a NATO mas teme que os assuntos da França sejam decididos a partir do exterior. A terceira república não lhe agradava. O partido tinha pouca força para impor o projeto do caudilho relativamente a uma nova constituição. As suas ideias anti-esquerda eram conhecidas e causadas pelo ambiente da guerra fria. Ele defendia uma espécie de capitalismo social. De qualquer modo De Gaulle mimoseou os partidários daquela república fraca com insultos irrepetíveis.
   As «mémoires» mantiveram De Gaulle à tona e deram-lhe visibilidade pública. O general cultiva a personalidade e compara-se a Joanna D'arc. É narcisista, solitário e melancólico como todos os grandes líderes. Impõe a si mesmo a distância em relação aos outros mas em privado é totalmente diferente. É afetuoso em família coma sua esposa e filhos. É católico e não costuma faltar a uma missa mas fá-lo por tradição. Os seus gostos literários resumem-se a Rostand e companhia. Em público é autoritário mas lúcido. A França é tudo para ele.
    A questão argelina dá a De Gaulle o ensejo de regressar à politica da qual se havia afastado havia alguns anos. Na Argélia a situação desembocara numa guerra civil. O general era encarado como o salvador da pátria. A 15 de maio de 1958 ele afirmara que estava em condições de assumir o poder devido à degradação da situação. A 24 verificaram-se movimentações militares para esconjurarem a hipótese de haver uma solução politica que não agradasse aos argelinos franceses. O caudilho inicia o processo de formar um governo para tranquilizar os militares. O presidente tenta um compromisso entre De Gaulle, Gaston Monnerville e André Troquer com os restantes políticos mas este falha. A 1 de junho o general é autorizado a elaborar uma nova constituição. As manobras militares que De Gaulle patrocina, ou pelo menos encoraja, destinam-se a remover os obstáculos à sua ascensão ao poder. Apoiado ou empurrado ele chegará às mais altas esferas de poder em França.
   Em meados de 1958 é elaborada uma nova constituição que é ratificada num referendo. No fim do ano De Gaulle é eleito presidente. O general triunfara. Em seguida nomeia Michel Debré como primeiro-ministro.
   O principal desafio que o caudilho vai ter de enfrentar é a questão argelina. De Gaulle, que em 1940 fora um ardente defensor do império, em 60 acreditava que a independência da Argélia era inevitável. Teve de fazer face à FLN que queria a secessão. Mas o general pretendia uma paz honrosa.
   A complicação era ter de gerir interesses antagónicos. Os pied-noirs exigiam a proteção da França mas os argelinos queriam a independência total. De Gaulle deu à Argélia três escolhas: a francisação, a secessão e a autonomia no quadro de uma comunidade sendo certo que ele preferia esta última. A violência estalava por toda a parte e a França estava perto da guerra civil. O terrorismo recrudescera. As negociações acontecem em Evian e De Gaulle cede. Por fim o presidente consegue controlar as manifestações e os golpes e a solução é aceite. No entanto a questão argelina tornou-se uma pedra no sapato na politica externa francesa.
   De Gaulle pensava que as ideologias eram o pretexto para a defesa dos interesses nacionais. As alianças apenas vigoravam enquanto servissem as nações. O presidente francês desenvolveu uma politica externa em tudo independente das grandes potências e da NATO. Começa por dar prioridade ao nuclear pois também aqui não quer estar dependente dos humores americanos.
   Retira a França da NATO e não quer ver forças estrangeiras em solo francês a ditar as regras. Relativamente à europa De Gaulle veta inicialmente a entrada do Reino Unido na CEE. Giza o plano Fouchet que visa uma união dos estados europeus mas sem órgãos supranacionais. A Grã-Bretanha é uma ameaça para a França nas suas ambições de supremacia.
   Hostiliza a América, irrita-a mesmo. Condena a guerra do Vietname e tenta uma aproximação à URSS e à europa de leste. As relações com a União Soviética melhoram bastante. O general encoraja o não-alinhamento para obter um mundo mais equilibrado. Vende armas à África do Sul, apoia o presidente M' Ba do Gabão e contesta a cruzada americana na Ásia. Faz um embargo de armas a Israel pois teme repercussões nas relações com o mundo árabe. Em 1967 quando visita o Canadá grita: «Viva o Québec livre!» Tem de regressar imediatamente a França.
   A politica externa francesa procura a grandeza da França, país ao qual o seu presidente acredita reservar-se um papel especial. Um lugar livre de amarras nem constrangimentos visando o seu fortalecimento na cena internacional.
   O presidente governa através da sua omnipresença em todos os negócios do estado. O seu estilo de comando a todos afeta e ninguém lhe é indiferente.
   Convence-se que o chefe de estado deve ser eleito por sufrágio universal e contra a vontade do parlamento decide pôr a questão a referendo. Sai vitorioso no referendo com 62% de aprovação. O general tem um estilo mais que autoritário mas sai-se bem pois privilegia o contacto com o povo e isso joga a seu favor. Os franceses ainda não tinham esquecido o que ele fizera pela França nos anos 40.
   De Gaulle apoia a sua força numa clara maioria parlamentar e goza de uma enorme popularidade entre as mulheres, os católicos e os idosos e em alguma esquerda mas é pouco popular entre os trabalhadores. São sobejamente conhecidos os discursos e as conferências de imprensa do general que usa a palavra como forma de persuasão. Mete-se nas questões gerais e mesmo nas matérias económicas o plano Rueff-Pinay é um exemplo de como se mantinha sempre à tona. As greves dos mineiros fazem com que a popularidade de De Gaulle caia para níveis nunca vistos e os planos de estabilização financeira também ajudam. No final do mandato quando se recandidata em 1965 o general prescinde de usar os tempos televisivos mas faz mal. Tem de ir a uma segunda volta contra Miterrand, o líder socialista.
   Para recuperar a popularidade posta em causa De Gaulle fala numa associação capital-trabalho mas não sabe como a há-de levar à prática. Os anos que se seguem são para ele de um tédio quase total. 
   A seguir acontece o maio de 1968. Os estudantes veem para a rua. As manifestações acontecem por toda a França. Do lado oposto aos manifestantes situa-se um De Gaulle sisudo e austero. Os sindicatos aderem à revolta. Os acontecimentos apanham o presidente numa fase descendente das suas vida e carreira. De Gaulle sente-se perdido. É Pompidou quem agarra a oportunidade de negociar com os manifestantes pedindo-lhes propostas concretas. Aparentemente o general foge para a Alemanha ensaiando talvez mais outro golpe de teatro. Mas é um presidente diminuído que aparece aos olhos da opinião pública. A 27 de maio as negociações com os sindicatos parecem ter sucesso. Em junho há eleições parlamentares e os gaullistas têm pela primeira vez maioria absoluta. O novo ministro da educação, Edgar Faure tenta uma reforma do sistema de ensino mas tem a oposição dos gaullistas.
   O general quer ver as suas reformas de descentralização e do senado aprovadas em referendo mas os franceses desautorizam-no. De Gaulle interpreta a recusa do eleitorado e demite-se. Pompidou é o senhor que se segue. O caudilho visita a Espanha e a Irlanda. Além disso lê e escreve. Morre serenamente a 9 de novembro de 1970. O seu legado permanecerá para sempre.  
  


terça-feira, 29 de setembro de 2015

O ASSASSINO DE CATARINA EUFÉMIA






   Eram ambos pobres. A vida do tenente da G.N.R. João Tomás Carrajola vai cruzar-se com a de Catarina Eufémia naquele fatídico dia 19 de maio de 1954 nos campos de Baleizão no Alentejo.
   Não é possível chegar a uma conclusão justa sobre se a arma que desferiu três tiros de rajada nas costas da infortunada mulher foi manipulada ou se se tratou de um lamentável acidente. Mas o processo judicial que então se despoletou parece não ter sido totalmente transparente. Os inquiridores parecem ter manipulado o interrogatório de modo a favorecer a tese do tenente. Muitas testemunhas não chegaram a ser ouvidas e elas teriam tido com certeza muita coisa para contar. O processo terá sido tendencioso e a defesa mostrou-se muito eficaz.
   O Alentejo por aquelas alturas era palco de frequentes conflitos entre camponeses pobres e os dignatários do regime. O desemprego grassava por ali e a pobreza era o prato forte de populações analfabetas que sobreviviam da agricultura em especial da ceifa.
   A guarda protagonizava inúmeras vezes cenas de violência das quais eram vitimas os infelizes cidadãos particularmente os mais indefesos e vulneráveis.
   Estão presentes no livro importantes documentos como o relatório da autopsia  que foi feita a Catarina e o acórdão que absolveu Carrajola. Também contem duas entrevistas, uma à filha da vítima e outra a uma amiga desta. Resume cronologicamente o historial de desmandos da G.N.R. perpetrados durante muitos anos. 
   Há versões desencontradas sobre se Catarina Eufémia teria de facto pertencido ao P.C.P. Uns dizem que sim, outros que não e outros ainda que se limitava a distribuir uns panfletos a pedido do marido. Seja como for o partido sempre gostou de alardear essa militância a ponto de erguer a camponesa num símbolo da resistência antifascista.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O SÉCULO XX ESQUECIDO




   Os factos do passado são irrepetíveis? Ou devemos aprender e tirar lições com ele? O século XX está cheio de acontecimentos dolorosos, trágicos ou de um singular triunfalismo. Cometemos erros ao ignorarmos as singularidades do século XX. Devemos estuda-lo e compreende-lo.
   No século XIX e antes o nosso passado era unívoco. Hoje, fruto da revolução informacional, o nosso presente é pautado por uma multiplicidade de gostos, interesses e preferências. A guerra, muitas vezes civil, foi uma das principais caraterísticas do século XX. A outra foi a ascensão e o colapso do Estado. Este adquirira então capacidades inauditas. O estado-providência resultou então de um vasto consenso interpartidário. Foi assim que foi possivel a existência de fenómenos como o capitalismo consumista com crescentes níveis de bem-estar e a aposta erm politicas de fomento que caraterizaram por exemplo o New Deal nos E.U.A.
   O sucesso do estado-providência enquanto potenciador de bem-estar levou a que os cidadãos dessem por adquiridas todas as conquistas que este possibilitou e vissem nos poderes públicos um estorvo à realização individual e à eficiência da gestão tal como esta passou a ser entendida. Outro facto relevante foi o esbatimento da dicotomia esquerda/direita desacreditada pelas narrativas então vigentes. O perigo no entanto consiste em as políticas públicas serem ditadas por realidades económicas alheias ao funcionamento das democracias. Aqui os intelectuais jogam um papel fundamental.
   Estas proeminentes figuras encorajavam, tanto à esquerda como à direita, a violência sobre os seus concidadãos. Mas na Europa entre as duas guerras os intelectuais fascistas possuíam uma inegável qualidade. Pessoas como Ernst Jüng, Pierre Drieu de La Rochelle, Louis Ferdinand Céline, Miecea Eliade e Henri de Man suplantavam André Malraux, John Dewey ou mesmo George Orwell. Mas o marxismo foi uma referência ao longo do século XX e a sua superação deixou algumas feridas. Do totalitarismo marxista passamos depois de 1989 para uma deriva ideológica de sinal contrário igualmente perigosa. Apenas teremos substituido uma utopia por outra. E depois há o fenómeno do extremismo.
   Sob a capa do terrorismo encontramos realidades que exprimem diversos objetivos e motivações diferentes. O terrorismo é de facto a principal preocupação do pós-guerra e alastrou-se e intensificou-se. A guerra ao terror deve refletir estes problemas essenciais.
   Voltamos ao início: a história repete-se? Nas suas linhas de força? Ou as realidades que vivemos hoje são inteiramente novas? Devemos pensar o nosso tempo e o devir com a lucidez que se impõe.

domingo, 12 de julho de 2015

O REINADO DE LUÍS XIV

   Foi o paradigma do absolutismo. Um Rei que só responde perante Deus e cujo poder nenhuma consciência humana pode limitar. Brilhante como o sol e como o sol dominando tudo e todos. Digno de veneração. Digno dos mais altos louvores. Controlando tudo. Nada deixando aos seus próximos que são tidos como meros executantes da sua vontade. Um poder que se agiganta nas forças armadas, na economia, na administração, na justiça e na cultura. Um país de súbditos feitos para servir o seu rei. 


sexta-feira, 12 de junho de 2015

O PRAZER DA POLITICA


   Foi um dos principais líderes do maio de 68. Daniel Cohn-Bendit é entrevistado e reflete sobre a sua experiência passada e a evolução da Europa desde os anos sessenta. A Europa e o mundo nunca mais foram os mesmos. A revolução tudo alterou. De um clima cinzento dos anos cinquenta passamos para a folia e a esperança de um mundo melhor.


domingo, 3 de maio de 2015

INTRODUÇÃO À TEORIA DO CONHECIMENTO


   São as questões que nos preocupam. Podemos conhecer? O conhecimento é fiável? os nossos instrumentos de conhecimento são perfeitos?
   Há vários tipos de conhecimento. O conhecimento factual ou proposicional inscrito nas expressões «sei porque», «sei onde», «sei se» e «sei o que». mas também existe o conhecimento por aptidão expresso em «sei como» bem como o conhecimento por contacto.
   As fontes de conhecimento podem ser a experiência (conhecimento a posteriori ou empírico) ou pode este ser anterior à experiência (conhecimento a priori). Para haver conhecimento as nossas crenças devem ser justificadas. Mas as formas de justificar as nossas crenças devem ser epistémicas e, portanto, boas. Podem no entanto existir justificações pós-factuais.
   Relativamente às suas fontes alguns autores consideram ser a experiência algo de relevante (os empiristas ou fundacionalistas). Outros (os coerentistas) sustentam que as nossas crenças são justificadas se forem consistentes com o resto das nossas outras crenças. Os internistas alegam que uma crença justificada é aquela em que o sujeito é capaz de refletir sobre as razões que as justificariam.
   A validade do conhecimento é por vezes posta em causa. Assim o cpticismo pode ser parcial ou afetar todo o conhecimento. Aqui debruçar-nos-emos principalmente sobre Descartes e Hume.
   As áreas do conhecimento são várias. 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

CYRANO DE BERGERAC


   Cyrano era tido como feioso. Possuía uma protuberância carnuda que lhe transtornava o rosto e provocava repulsa daqueles com quem falava.. O seu nariz impedia-o de se aproximar do sexo feminino e afastava eventuais pretendentes. O seu amor por Roxana  não é correspondido de imediato e vai ter de empenhar todos os seus dotes de galanteio para conquistar a sua dama. Cristiano parece levar-lhe a avante mas o nosso versejador urde uma trama para ser ele a ficar com Roxana. O amado da donzela será atraente mas não tem a eloquência nem o garbo do nosso narigudo. As cartas que lhe envia escritas por Cyrano são capazes de seduzir até deusas.
   Mas Roxana enfrenta todos os perigos para estar com o seu amante e fura as linhas espanholas para ver Cristiano. O cerco de Arras é perigoso e todos a tentam demover. Em vão. O que acontece é que o infeliz Cristiano acaba por falecer deixando Roxana inconsolável. Como se retira para um convento movida pelo desgosto é visitada por Cyrano a quem pede que conceda ler-lhe uma daquelas cartas. A donzela reconhece a voz de Cyrano que fazendo-se passar pelo amante a galanteava sob a varanda. Afinal era ele o autor das  perfumadas cartas que durante anos Cristiano lhe enviava. O astuto barão consegue os seus intentos e conquista Roxana.  


terça-feira, 3 de março de 2015

TERRA DO PECADO

   O autor deste livro tem vinte e quatro anos e há-de tornar-se um grande escritor. Quis chamar-lhe «A Viúva» mas o editor mudou-lhe o título. Mas ficou-lhe grato por ter finalmente uma primeira obra publicada.
   Manuel Ribeiro está às portas da morte. É assistido pela sua dedicada esposa Maria Leonor e pela criada Benedita. O patrão fôra de facto um ótimo homem e a criadagem gostava dele. Mas nada conseguiu evitar o trágico desfecho.
   A dor de Maria Leonor é muita e nem a devoção dos trabalhadores para com o marido defunto consegue alivia-la. Mas o corpo de Manuel Ribeiro é colocado na sua morada eterna. A chuva que apanhara durante o enterro do marido fazem a brava mulher cair doente com pneumonia. O cunhado ajuda-a. O médico aparece. O inverno está quase no fim.
   O palheiro da quinta arde completamente. O Dr. Viegas visita a doente. Está quase curada. A Teresa e a Benedita disputam as atenções da patroa. É preciso repouso. Maria Leonor adormece.
   Os putos desencadeiam uma batalha de almofadas. Benedita quer que se lavem. Tomam uma chávena de leite e saem para brincar. Pescam no rio e regressam arranhados e sujos. António Ribeiro aparece. Cumprimentam o tio e procuram a mãe.
   É longa a convalescença de Maria Leonor. Benedita admoesta a patroa e ela acaba por sair daquela letargia. O cunhado António e o dr. Viegas haviam triunfado. Vão encontrar a nobre senhora muito mais animada. Mete mãos ao trabalho e passa a dedicar-se por inteiro à quinta, aos criados e aos filhos. O cunhado agora ausente ocupa-se da medicina. Passa-se o verão e o outono. O padre Cristiano interpela-a preguntando porque tem faltado à missa. Maria Leonor censura as coscuvilhices de benedita e interpreta diante dela os desígnios da providência.
   Este ano a festa de natal realizou-se como de costume. Os criados começam por censurar a decisão mas acabam por a compreender. Benedita apronta tudo. Teresa e Jerónimo colaboram bem como toda a criadagem. Vêem o padre Cristiano e o dr. Viegas. Celebra-se com alegria. Lança-se um foguete. Nas casas ao lado outros se seguem. No fim estão todos estafados. Julia e Dionísio brincam durante toda a festa. A noite apela ao descanso.
   O Viegas costuma passar lá por casa. Maria Leonor deambula pela casa como perdida. Joana diz que isso se deve à falta de homem. Benedita repreende-a e ameaça-a com o despedimento. A mãe bate nas crianças. Benedita fica irritada mas a patroa consegue reconquistar as crianças.
   Chegou a hora do exame da quarta classe de Dionísio e ele fica aprovado com distinção. Aliás, passam todos.
   Maria Leonor quer enviar o filho para estudar em Lisboa e hospeda-lo em casa de familiares do dr. Viegas. Este adverte-a das transformações que ocorrerão necessariamente na personalidade do rapaz. Entre beijos e abraços a criada Teresa introduz à socapa o namorado em casa da patroa. Maria Leonor assiste a tudo da janela. Cumprindo o que avisara por carta António veio passar uma temporada em casa da cunhada. Tenciona fazer umas visitas mas o dr. Viegas está ausente. O pe. Cristiano abraça-o longamente. Vai também ver o irmão defunto no cemitério. Benedita começa a desconfiar da patroa e faz agora tudo para a irritar. O relacionamento entre as duas já não é o mesmo.
   O dr. Viegas comunica a maria Leonor o assentimento dos seus familiares à hospedagem do seu filho enquanto ele estiver em Lisboa. António tem uma cena tórrida de sexo com a cunhada. Bendita vê tudo. Benedita, fazendo uma encenação, resolve tudo e diz à patroa que o cunhado lhe vinha exigir metade da quinta. António escreve a despedir-se. Graças à criada Maria Leonor fica por instantes tranquila. Toda a criadagem conhece a estória segundo a versão de benedita. Maria Leonor sente-se nas mãos da criada.
   Benedita espalha a notícia por todos os lugares. Na taberna não se fala de outra coisa. O dr. Viegas aparece lá para beber um copo. O taberneiro conta-lhe tudo. Ele não acredita e acha um disparate a ideia do António ter ido exigir metade da quinta.
   O dr. Viegas aparece na quinta. O médico nunca acreditará naquela estória tal com ela era contada e pergunta a Maria Leonor o que se passara. Maria Leonor conta tudo. O amigo compreende-a. A pobre senhora diz a benedita que a odeia. A criada responde-lhe que a adorava.
   Benedita traz a Maria Leonor uma carta de António Ribeiro. Já vem aberta. A patroa desfá-la em pedaços sem a ler. As crianças falam com a mãe e Dionísio pergunta como vai ser a sua estadia em Lisboa. Maria Leonor fica a saber que a criada foi levar uma carta ao cunhado.
   O padre Cristiano dá a ideia do sobrinho do dr. Viegas vir passar as férias na quinta. Fá-lo para resolver a questão da repugnância de Maria Leonor em não pagar a estadia do filho em Lisboa. Seria Dionísio a fazer o convite. A alta senhora chama o dr. Viegas à quinta e insta-o a escrever ele mesmo a carta de convite.
   O médico censura o desleixo com que Maria Leonor governa a sua casa. Num ímpeto inusitado propõe casamento à amiga deixando-a muito perturbada.
   Viegas foi à quinta informar Maria Leonor que o sobrinho chegaria no comboio da tarde. Dionísio reage amuado à prespetiva de ter um hóspede em casa. Benedita pergunta o que se passa. A ama quer castigar a criança mas a criada não consente. O médico tenta desfazer a sua insensatez mas Maria Leonor responde que se não se casam é por causa de Benedita. Esta fica adoentada.
   Vão esperar o João à estação. Facilmente o gelo se desfaz. Maria Leonor tem uma alucinação. Na quinta as brincadeiras das crianças enchem a casa toda. Viegas e Maria Leonor conversam sobre a perigosa Benedita. O médico volta afalar-lhe de casamento e ela aceita. O amigo diz que ela deve despedir a criada mas não o quer fazer.
   As crianças foram pescar para o Paul mas havia pouco peixe. O Sabido levou os poucos que morderam os anzóis. O João estava fascinado. Dali foram para o Parreiral para casa de Viegas. De tarde visitaram o padre Cristiano na igreja de Miranda. As crianças subiram à torre. Viegas diz ao padre que vai casar. No confessionário o sacerdote diz-lhe que já sabia. Uma mulher já havia confessado esse facto. Viegas fica atordoado pois sente nisso as mãos de Benedita.
   Quando chegaram à quinta Benedita ía à horta e as crianças acompanharam-na. Viegas encontrou Maria Leonor no seu quarto e então soube que afinal tinha sido ela a contar tudo ao padre Cristiano. Perdem-se os dois de amores e amam-se sobre a cama. Benedita surpreende a patroa toda descomposta. Pede-lhe explicações. As crianças chamam. Maria Leonor desespera e tenta disfarçar. Chegam com a notícia da morte de Viegas.      
  

domingo, 22 de fevereiro de 2015

UM CASAMENTO DE SONHO

  Já estão dentro do avião. Leonardo parte para o Brasil para onde fugira a esposa de quem se separara. Com ele vai Rafael, um amigo cheio de remorsos.
   Recuamos ao ano de 1998 quando Rafael e Constança se vão casar. O tio Manuel e a tia Márcia são os pais da jovem. A sua mãe vê num obscuro título nobiliárquico uma hipótese de ascensão social. O marido passa a ser o conde de Arcas. Carlota é a irmã de Constança.
   Rafael tem um peso na consciência. Não contou ao amigo a conversa que ouvira entre Constança e sua mãe. A filha refere-se ao futuro marido como a um urso de peluche. Os amigos de Leonardo estão por demais ocupados com as suas caras-metades. Guilherme namora com a Ana e Miguel namora com a Patrícia. Aquela cena na discoteca, esquisita como foi fazia prever que as coisas podiam não correr muito bem. Rafael avança em direção a Carlota que lhe dá para trás. O fim do relacionamento da irmã de Constança dá algumas esperanças ao rapaz. Abrem-se as prendas e prepara-se o casório. Rafael beija Carlota. A avó Vomé controla. A prima Josefina e a criada Laiducha também estão presentes. O tio Luís tenta chamar a atenção.
   carlota ruma a Arcas e detém-se diante do mosteiro onde havia de casar a irmã. O edifício fora reconstruído pelo mesmo engenheiro que fez uns restauros lá em casa e recebeu acrescentos que o tornaram mais moderno.
   É o dia do casamento de Constança. Está muito calor. Todos transpiram. As senhoras abanam freneticamente os leques. Carlota sente insegurança na atitude da irmã. Rafael investe em Carlota. Esta faz-se cara e ele persiste nas suas intenções. O descaramento é total.
   Miguel e Guilherme casarão em breve. Rafael será o último livre. Mas é divorciado e isso não agrada à rapariga. Chega o momento das fotos. O dr. barreiros é efusivamente recebido pelo conde de Arcas. Os pais da noiva veem nele uma hipótese de ascensão social, nele que no passado se encontrara em apuros mas que os havia ultrapassado e havia fundado um poderoso banco de investimento. mas o interesse de Carlota é a publicidade mais ao jeito de Rafael. As comezainas animam todos.
   O assédio de Rafael é constante. Dançam. Desejam-se e acabam envolvidos possuindo-se um ao outro. Para sua desgraça são surpreendidos na casa de banho em pleno ato. D. Gertrudes e Adelaide aparecem lá para se aliviarem. Parece que não repararam no rapaz. Carlota insta-o a saltar para não ser visto. A esposa do dr, Barreiros fica escandalizada e aquilo não convém nada. O marido é adulado pois é um seguro de garantis para a família do conde. Não tardou que o escândalo chegasse à tenda. A tia Márcia considerou a filha uma porca. e os convivas cochichavam sobre o feito de Rafael embora o rapaz, bêbado como todos, dançasse com as inúmeras raparigas que estavam na pista sem se importar. Carlota estava furiosa. Leonardo apareceu seminu pedalando um triciclo. Inês Santana, uma das amigas da noiva, admirava o ato de Rafael. Constança também e permitiu que o jovem continuasse a frequentar a sua casa.
   É a passagem do ano em Arcas. Todos os amigos estão presentes. Carlota e Nuno levam também o filho, Manelinho. Rafael aparece com a sua nova namorada, Astrid. Carlota fica sempre avariada quando o vê. Constança também costuma ficar fascinada com aquele mulherengo. Mas tudo corre bem. A conversa à refeição é o progresso de Arcas, em boa medida impulsionado pela tia Márcia. O conde está orgulhoso da esposa. Mas Astrid parece não perceber nada da conversa.
   Patrícia tivera entretanto filhas, Mafalda e outras. Constança tinha a Ritinha e acabara de nascer Leonardinho. Rafael aparece lá em casa. Ana sempre o considerara um mulherengo irresponsável à imagem do seu pai e incapaz de manter uma relação amorosa por muito tempo. Ele tivera um caso com uma rapariga tão irresponsável como ele, a Titá, e desse relacionamento nascera Tomás. Mas Rafael não mudara nada. Agora na sala parecia estar a fazer olhos a Constança e esta a gostar disso. Os flirts com carlota e Vera parece que não importavam. Ana tivera com Guilherme três filhos: Lucas, Simão e Pedro. Patrícia tivera com Miguel duas filhas: Mafalda e Marta. Para Rafael começara a idade das chuchas, a maternidade tão acarinhada pelas duas amigas. A presença daquele elemento arrepia Ana que, apesar do sucesso profissional do rapaz, não desculpa o seu comportamento com as mulheres, as drogas e tudo o que o rodeia. Aquelas jovens não tinham por que se queixar em relação aos seus maridos, sempre atenciosos, bem sucedidos e que lhes proporcionavam uma vida boa com viagens fantásticas e prendas generosas. Mas Ana desaprovava a cumplicidade que por vezes parecia existir entre Rafael e Constança.
   O dr. Barreiros, banqueiro bem sucedido, não hesita em alinhar nas aventuras imobiliárias do dr. Terroso e da sua esposa Patrícia, do dr. Moncada, alegre publicitário, e do dr. Amaro e sua esposa Ana desde que estes negócios fossem abençoados por Leonardo, esse mago da economia. Os doutos casais queriam passar das suas moradias pequenas para casas maiores e mais caras. As mais-valias compensavam o risco do financiamento, pensava ele. O dr. Leonardo Pestana queria a balançar-se no negócio da restauração e pede um empréstimo ao banco do dr. Barreiros. Ao dr. Terroso este parece um projeto arriscado mas o estimável banqueiro passa por cima das suas advertências e patrocina o negócio de Leonardo.
      

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

MINHA QUERIDA INÊS


   Há o perigo real dos filhos de D. Inês, bastardos descendentes do rei de Castela, ascenderem ao trono português. O rei de Portugal vivia obcecado pelo drama da bastardia. Já D. Dinis teria tido uma predileção por amantes e concubinas e preferira os filhos que gerara nestas ao seu filho legítimo. Sucedem-se tramas e intrigas envolvendo o fragilizado reino com as ambições de nobres e cavaleiros. D. Álvaro Pereira, prior do Hospital, confronta Inês. Quer saber se ela sabe do conluio de seus irmãos com D. Pedro para destronarem o legítimo rei de Castela. Inês enfeitiçara D. Pedro com o seu charme e a sua aparência esbelta, seios fartos e cabelos longos e louros. Mas o seu pai está desgostoso com o infante e teme pela sorte do pequeno Fernando que pode ser facilmente ultrapassado por um jovem mais saudável e atlético.
   O escudeiro que Inês detesta foi enviado por D. Pedro para a proteger. Efeminado, diz-se que é amante de Pedro. Mas Remédios é Jala, a moura filha do rei de Almendra, que Inês recebe e protege e que vai velar os filhos da donzela mais cobiçada de Portugal.
   Pedro deu a Inês o padroado da igreja de Sto. André e está desejoso de casar com ela. A donzela foi madrinha de Luís, filho de Pedro e Constança. O padrinho fôra Diogo Lopes de Pacheco. Mais tarde este envia Gonçalo Vasques em nome do rei a falar com D. Pedro instando-o a casar com Inês. Mas este energúmeno no passado havia frustrado a bula papal de dispensa para o casamento e por isso não era de confiança. Pedro, infantilmente, confia que conseguirá proteger Inês.
   O rei de Portugal reúne em conselho. Álvaro Gonçalves e Pêro Coelho dão a sua opinião. Entra um mensageiro anunciando que os Castro haviam tentado envenenar Pedro, filho da infanta D. Maria e neto do nosso rei. Decide-se que D. Inês deve morrer. A trama foi sendo urdida por Pêro Coelho, Afonso Madeira depois de abundantemente subornado, Luís Anes (falcoeiro do infante) e Pedro Esteves Condesso (falcoeiro do rei).