domingo, 22 de dezembro de 2013

A CIDADE DE ULISSES

   Um périplo por Lisboa, a cidade secular, segundo a tradição fundada por Ulisses e à volta da qual giram um grande manancial de estórias. Aventureiros, navegadores, viajantes, pessoas ao serviço de reis e outros poderosos pertencem ao imaginário desta vetusta urbe tão maravilhosa, abastada e cheia de encantos. A propósito de um duo ou trio amoroso e de uma exposição em 2008 sobre a cidade vamos navegando ao sabor de locais e recantos cheios de fantasia. Eis-nos de volta às calçadas e edifícios sobre os quais pouco conhecemos.
   Andamos por Lisboa, a cidade aberta ao mundo onde confluíram povos e civilizações celebrada em verso e de origens nobres e ancestrais. o tempo em que o mundo era português e se desvaneceu. As ruelas, as aventuras e a ousadia dos seus habitantes. O prazer que dava calcorrear aquelas calçadas e a descoberta de todos aqueles lugarejos.
  Nos idos anos oitenta Paulo descobrira a sua Cecília nos bancos da faculdade quando ela era sua aluna. A mulher que o seduzira   e pela qual ele daria a sua vida. Criatura de forte personalidade, de hábitos requintados e com a qual passou a partilhar muitos dos seus dias. Os pais do professor, um oficial do exército e uma apagada senhora, foram grandes influências com os quais viveu dias atribulados mas que o fizeram descobrir a beleza da arte e o desafio da vida. Fora a mãe quem lhe suscitou o interesse que o iria completar para sempre. Aquelas temporadas no sótão foram uma lição de resistência. Com o pai castrador teve uma relação que não lhe anulou o amor, o futuro e os projetos. O oficial e o filho viviam mutuamente desiludidos. É com a namorada que vai viver um período de intensa felicidade. 
   Com a amada, Paulo Vaz desfruta intensamente da cidade de Lisboa. Percorre caminhos, frequenta teatros e cinemas, vê exposições, vai a bares e vive enfim um edílico romance.
   Vão morar para um atelier que ele compra e no qual produz os mais belos e magníficos trabalhos sob o olhar atento de Cecília. Trabalham e namoram e o sonho prolonga-se por quatro anos. Junta-se um gato ao espaço que ele terá a contragosto de aceitar e a vida com a namorada vai fluindo normalmente.   Até que um dia ela anuncia que está grávida. Paulo rejeita a possibilidade de nascer um filho e agride a namorada causando-lhe enormes ferimentos e fazendo-a perder a criança. De jovem agredido e maltratado pelo pai Paulo passa a agressor. Arrepende-se mas já é tarde.
   Cecília desaparece da sua vida. Em vão a procura. Entretanto viaja por Itália, Estados Unidos, onde expõe, e Japão. Está em Berlim em 1989 quando o muro é derrubado. No universo feminino convive com mulheres como Allison e Benedetta mas elas não o preenchem. Junta-se a Sara, juíza e de forte personalidade.
    Mais tarde como que por acaso encontra Cecília já casada e mãe de duas meninas. Combinam um melhor encontro mas este nunca se realiza. Um dia toma conhecimento através dos jornais da morte do seu grande amor num acidente de viação.
   A exposição que se vai concretizar deve ser sobretudo de Cecília. Fala com o viúvo Gonçalo Marques a comunicar-lhe a sua ideia e ele fica radiante. A exposição tem lugar e é magnífica.
   Sara vai para o nordeste brasileiro descansar e Paulo cruza o atlântico para os braços da segurança e do amor. A sua derradeira vitória.