segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

ILÍADA

   Obra escrita por Homero que relata a guerra de Troia. Composta por vinte e quatro cantos, trata-se de um dos mais belos poemas épicos de todos os tempos.

I

   Crises suplica aos deuses que libertem a sua filha, Criseide, do cativeiro. Invoca Apolo e este com as suas flechas de prata semeia a morte entre os homens. Calcante explica a Aquiles a razão da ira do deus. A mortandade deveu-se ao rapto da bela Criseide, filha de Crises. Agaménon e Aquiles entram em disputa por causa deste episódio. Acende-se a ira de um contra o outro. Aquele ameaça tirar a Aquiles a bela Briseide e fa-lo. Criseide é libertada e conduzida para junto de seu pai. Tétis, a mãe-deusa de Aquiles, ouve as queixas do filho e suplica a Zeus que o honre de alguma maneira. Pede-lhe que dê força a Troia para que o seu filho seja respeitado. Zeus acede a iluminar com heróicos atos a vida previsivelmente breve de Aquiles. Hera censura a magnanimidade de Zeus para com Tétis. A ira de Zeus acende-se contra Hera.

II

   Zeus cogita como vai honrar Aquiles. Decide enviar o pernicioso sonho a Agaménon que cai no sono. O sonho incita-o a guerrear os troianos e a conquistar Troia. O átrida reune o conselho e ao invés aconselha os aqueus a retirarem para a suas casas para junto de suas familias. Hera insta Atena a intervir e esta incita Ulisses a encorajar as tropas para a guerra. Este diz que Agaménos apenas os quer pôe à prova. Reunem-se na ágora. Termites injuria Agaménon. Ulisses repreende-o. Voltam a reunir-se em assembleia. Néstor incita os aqueus para a guerra. Discurso de Agaménon. Catálogo das naus e das tropas aqueias. O exército troiano.

III

   Alexandre e Menelau avançam diante das tropas. Aquele recua de repente diante de Menelau e é censurado por Heitor mas diz a este que quer bater-se em duelo com Menelau pela  posse da bela Helena retida em Troia. Os troianos chamam-na e ela aparece. Helena apresenta os melhores guerreiros aqueus. Oram e oferecem sacrifícios. Menelau ganha o conbate mas os troianos escondem Alexandre e não entregam Helena. Afrodite obriga Helena a ir para o lado de Alexandre.


IV

   Os deuses reunem-se em conselho para decidir a sorte de Troia. Zeus, movido por Hera, manda Atena semear a discórdia entre aqueus e troianos. Esta incita o filho de Licaón a atingir Menelau mas a seta falha o alvo desviada pela deusa sua protetora. A flecha fere Menelau e o médico Macaón é chamado para o tratar. As tropas troianas avançam. Agamenón revista as tropas aqueias, encoraja os valentes e censura e invetiva os cobardes. Combates.

V

   Atena enche de coragem Diómedes e este mata Fegeu. Diómedes dizima várias falanges de troianos. O filho de Licaón atinge-o e ele fica a sangrar do ombro direito. Estenelo arranca-lhe a flecha. Diómedes dizima as falanges troianas matando muitos guerreiros. Diálogo entre Eneias e o filho de Licaón. Os dois propõem-se enfrentar Diómedes no entanto perdem o combate. Afrodite protege o seu filho Eneias para que ele não pereça. O filho de capaneu apodera-se dos cavalos de Eneias e condu-los até às côncavas naus. Diómedes persegue Afrodite que se queixa a sua mãe Dione. Esta consola-a e fala-lhe dos males que os homens também causam aos deuses imortais. Queixam-se a Zeus e ele diz que a Afrodite não competem as ações bélicas. Apolo adverte Diómedes, incita Ares contra o Tidida e encoraja o exército troiano. Ares incita os troianos e Sarpédon censura Heitor pela sua falta de coragem. Exortações ao confronto de ambos os lados. Os aqueus aguardam. O átrida anima as tropas aqueias. Mata Deicoonte. Eneias mata Créton e Orsíloco. Ares incita Agaménon pensando na sua derrota por Eneias. Matam Pilémenes e Mídon. Heitor mata Menestes e Anquíloco. Ajax mata Ânfio. Diálogo em tom de desafio entre Sárpedon e Tlepólemo. Morte deste. Sárpedon é ferido na coxa. Ulisses mata muitos lícios. Heitor aparece e dizima muitos guerreiros. Hera lastima-se perante Atena. A deusa de níveos braços interpela o crónida no alto da cumeada do Olimpo. Pergunta-lhe se pode ferir Ares expulsando-o do combate e Zeus responde que ela lance sobre ele Atena. Hera censura a cobardia dos aqueus e Atena dirige-se ao filho de Tideu e diz-lhe que não tema Ares. Atena e Diómedes investem contra Ares e aquele fere-o. Ares queixa-se a Zeus que lhe diz ser ele o mais odioso dos deuses que só se apraz com guerras e discórdias. Peón cura os ferimentos de Ares.

VI

   Combates por toda a planície. Mortandade. Menelau submete Adrasto que lhe suplica que peça um resgate e lhe poupe a vida. Agaménon censura o seu irmão que acaba por repelir Adrasto e o rei átrida fere-o de morte. Diómedes desafia o filho de Hipóloco. Este narra a história dos heróis seus antepassados. Diómedes quer ser o hóspede do filho de Hipóloco e pretende que na sua terra ele também seja seu hóspede. Firmam as pazes. Heitor insta a sua mãe a sacrificar a Atena pelo bem de Troia e que ele falará a Páris. Hécuba escolhe um dos seus mais belos véus e oferece-o a Atena. Heitor invetiva Alexandre censurando a sua apatia. Helena diz a Heitor que o seu irmão não tem caráter. Heitor sai em busca de sua esposa Andrómaca. Ela teme a sua sorte. Andrómaca preocupa-se com Heitor e o filho de ambos. Encontro de Alexandre e Heitor. 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O AMOR EM TEMPOS DE CÒLERA

   Romance escrito por Gabriel Garcia Marquez que relata as peripécias dum homem que passou boa parte da sua vida obcecado com uma jovem e termina com o reencontro final dos dois já na velhice.
   A história começa com a morte dum velho amigo do dr. Urbino, agora casado com Fermina Daza e por quem Florentino Ariza sempre nutriu uma paixão avassaladora. O enredo recua até à juventude do médico e da sua esposa. Conta as aventuras e desventuras deste até se fazer médico, um reputado clínico dos mais intervenientes e socialmente considerados da cidade. A forma como convenceu a fria Fermina Daza a tornar-se sua esposa e a vida de luxo que ambos tinham levado desde então. Por seu lado, Fermina Daza era a filha dileta de um orgulhoso comerciante que tenta subtraí-la às garras de Florentino Ariza, desde os tempos em que ele a conhecera, ainda jovem no jardim situado nas imediações do severíssimo colégio que esta frequentava. A seguir foram décadas de cartas, encontros fortuitos e sonhos que o passar dos anos não destruiu. Ariza teve outras namoradas com as quais se envolve em relacionamentos tórridos, neste livro erótica e profusamente descritos, mas nenhuma delas tinha o fulgor e o charme de Fermina Daza. Por fim, já na velhice após cinquenta e um anos e nove meses de persistência o jovem sedutor transformado num velho caduco consegue finalmente os seus propósitos.
   Num passeio num vapor da empresa que herdara os dois idosos amam-se abandonando-se um ao outro sem questionarem o futuro nem se preocuparem com a vida.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O RELATIVISMO

   Quando pela primeira vez abri este livro, num rápido relance receei que fosse ler nele as habituais banalidades que usualmente se escrevem sobre esta temática. Mas um olhar atento ao seu conteúdo e à abordagem que nele se faz do mais relevante núcleo teorético da atualidade desfez todo o meu temor.
   De facto, embora se tratando de um arrazoado de cariz básico o seu autor não se deixou ficar pela superficialidade.
   Há vários tipos de Relativismo. O Relativismo normativo, baseado nas aproximações teóricas que, recuando aos antigos gregos têm em Montaigne, David Hume e Max Weber os seus maiores expoentes e remeteria no primeiro para as responsabilidades da socialização e das convenções culturais arbitrárias as nossas aproximações à realidade; no segundo para a ideia de um abismo que separaria o positivo do normativo não podendo a adesão a juízos normativos derivar de uma fundamentação objetiva. Max Weber, por seu turno, falou numa «guerra dos deuses» e no «politeísmo de valores». É claro que pode objetar-se que uma perspetiva culturalista esquece a distinção entre costumes, normas e valores e que uma qualquer abordagem normativa assenta sempre em principios indemonstráveis mas que podem ser considerados uns melhores do que outros e que dão todavia lugar a interessantes programas sociais.
   O Relativismo cognitivo tem como maiores expoentes Thomas Kuhn que postulou que os processos de seleção das ideias cientificas têm sobretudo um caráter irracional; e Karl Popper que falou nos critérios de distinção entre ciência e não-ciência fazendo radicar aquela na refutabilidade. Podemos dizer que este pensador não captou a verdadeira essência desta problemática pois existem teorias irrefutáveis de cuja cientificidade ninguém se atreve a duvidar. Por outro lado os critérios de cientificidade também devem contemplar a noção de utilidade. Porém muitos não crêem na total objetividade das construções cientificas. As mais importantes objeções que são aduzidas a este relativismo prendem-se com a distinção entre curto e longo prazo e com a argumentação que a faz depender da relação entre os critérios de cientificidade e a existência da própria cientificidade.
   Para explicar as crenças humanas aferindo o seu papel no processo de conhecimento são estas subdivididas taxonómicamente em três tipos consoante a sua relevância e forma de validação. A perspetiva cognitivista encara-as como o efeito de razões chamando a atenção para a transubjetividade e apresentando inúmeras vantagens face às teorias irracionais das crenças. Em última análise conclui-se que todas as crenças (cientificas e ordinárias; normativas e descritivas) derivam dos mesmos pressupostos e têm a mesma natureza. Tal facto desacredita um dos fundamentos do relativismo.
   A crítica do passado subjaz a todas as sociedades e em todos os lugares e frequentemente se encontra sujeita a oscilações de caráter subjetivo redundando a maior parte das vezes em análises facciosas carregadas das pulsões do observador. Este encara o observado de outras épocas e culturas sociocentricamente, eivado de obnubilosos preconceitos. Urge encetar uma análise descentrada na qual não se percam de vista as fragilidades igualmente evidentes e os aspetos míticos que também comporta a ciência do Homem atual. Isto não significa que por vezes não devam ser tidos em conta outras consequências práticas sob pena de tolerarmos o absurdo.
   Do século XX aos nossos dias forjaram-se duas espécies de teorias da evolução moral, social e política: o modelo mecânico (que encara as ideias como variáveis dependentes, mais a explicar que explicativas) e o modelo racional (que trata as ideias como variáveis independentes e por isso explicativas). É este último que explica a evolução moral das sociedades ao enquadrar o individualismo e a liberdade de pensamento na raíz do progresso normativo. A produção e seleção de ideias novas faz-se em função do individualismo tal como era defendido por Durkheim. Weber fala-nos na prossecução de um programa e na racionalização difusa à luz de um novo kantismo. Os progressistas desenvolvem ações no sentido de estebelecer regras mais eficazes visando um sentimento de legitimidade e de validade. Os direitos de terceira geração implicam a distinção entre racionalidade instrumental e axiológica. É claro que esta racionalização não conduz à uniformização.
   A evolução moral, social e politica pressupõe as noções de espectador imparcial e racionalidade instrumental e axiológica. O curto, médio e longo prazo e o seu devir giram em torno da racionalidade difusa. O bom relativismo enquadra-se nesta problemática à luz do respeito pelo outro. O mau relativismo regista a diversidade das normas e dos valores mas não tenta compreende-los. Desta compreensão depende o futuro próximo da humanidade.

  

sábado, 13 de outubro de 2012

DIÁLOGOS SOBRE A RELIGIÃO NATURAL


   David Hume, um dos mais notáveis filósofos empiristas do século XVII, escreveu este magnífico livro discorrendo sobre o valor, a validade e o exercício da religião. É assim uma das mais famosas das suas obras onde ele avalia sobretudo o argumento do desígnio como demonstrativo da existência de uma deidade. São mais de cem páginas em forma dialogar em que se assumem como protagonistas FÍLON, CLEANTES e DEMEA.
   O autor critica a possibilidade de nos basearmos neste argumento para afirmar um deus sumamente bom, poderoso e omnisciente superior e anterior a todas as coisas. São imperfeitos os instrumentos racionais de que nos servimos nas nossas reflexões e meditações no entanto afiguar-se-ia absurdo rejeitar estes mesmos instrumentos que são aqueles de que nos podemos valer. Não se constitui solução para o aparente problema da sua limitação.
   A argumentação de Hume tem como base a tentativa de demonstrar a fraqueza da analogia neste argumento e as contradições e incongruências desse raciocínio. É errado tornar-mo-nos o modelo da deidade. Debate-se o antropomorfismo e a existência de uma ou várias deidades, ambas hipóteses possíveis. Encara-se como um sofisma dificultoso o argumento da regressão «ad infinitum». Apresenta-se objeções relativamente à hipótese de se considerar o universo semelhante a um animal ou corpo organizado movido pelo princípio da vida e do movimento idêntico. Os intervenientes discorrem se o universo provém, como qualquer animal ou vegetal, da geração ou da vegetação e se isso prova o desígnio inteligente. Considera-se a cosmogonia epicurista encarando no entanto a matéria como finita mas tem-se por frágil a analogia. Rebate-se por inconsistentes os argumentos da existência necessária e da explicação suficiente. Reflete-se, finalmente, sobre a miséria humana e o problema do mal. É apresentado mais uma vez o paradoxo de Epicuro.
   Sem qualquer conclusão plausível envereda-se pela suspensão do juízo.
                                                                                

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

EVA


   Romance escrito pelo escritor cabo-verdiano Germano Almeida cuja ação anda à volta da problemática do conflito entre os partidários da independência e a integração em Portugal com uma autonomia de circunstância para esse arquipelago atlântico. Sentem-se os odores, veem-se as imagens e ouvem-se os relatos de um jovem país enredado no seu destino.
   São três personagens principais-a Eva, o Luis Henriques e o Reinaldo-no testemunho pessoal deste último que refletem os dramas do pós-independência enquanto os dois homens vivem um caso tórrido com a cativante portuguesa, filha de um militar do Estado Novo. A ação começa nas ruecas de Lisboa na atualidade e é conduzida desde a década de sessenta do século passado pela boca do narrador. A partir daí desenrolam-se estórias, perseguições, amores e desenganos em que Luis Henriques e Reinaldo tentam superar-se um ao outro pela conquista da Eva através dum humor caustico que perpassa todo o livro. No fim eis-nos regressados à Lisboa das tabernas e da desilusão.
   Germano Almeida, que atualmenta exerce advocacia no Mindelo, revela-se um autor muito politizado e apenas se serve da estória de amor para com um «ménage à trois» ajustar contas com o passado e esconjurar os fantasmas ainda presentes numa certa elite cabo-verdiana. O livro é agradável de ler, roça o erotismo mas assume-se como sendo um dos mais brilhantes hinos à lingua portuguesa escritos por um autor africano, à sua pujança e universalidade.