domingo, 19 de outubro de 2014

O BOTEQUIM DA LIBERDADE

   Eis o bar onde se conspirava, se faziam e desfaziam governos, se geravam movimentos cívicos, se recitava poesia, se planeavam acontecimentos e viagens, organizavam tertúlias e se apoiavam as jovens e velhas esperanças na escrita, na arte e na ciência.
   Por lá passaram políticos, escritores, artistas, fadistas e outros intelectuais e poderosos da nossa praça. Viveram-se os anos oitenta em delírio num local que era o poiso predileto de Natália Correia que aliás ele ajudara a fundar.
   Natália era de facto aqui omnipresente. A sua pujança, personalidade e visão da vida estavam sempre patentes na defesa da liberdade total. Propõe a adoção do conceito de mátria portuguesa e afirma que o nosso país tem características e encantos femininos. Segundo ele o futuro é a androginia. Como deputada foi sempre livre de condicionamentos partidários o que lhe valeu uma série de aborrecimentos.
   Protagonizou vários casamentos invulgares e dizia que não nasceu para procriar. Defendeu o direito à preguiça afirmando que o trabalho oprime e é inútil.
   Desconfiou das religiões tradicionais tal como se nos revelam. Defendeu uma religião renovada e responsabilizou as igrejas pelo descalabro social.  
   Divulgou obras de jovens autores que ajudou a lançar. A ela estes ficaram devedores de  gratidão e reconhecimento.
   Tinha uma especial predileção pelos seus Açores natal aos quais volta sempre com prazer.
   Deixou-nos uma vasta obra mas enfrentou alguns dissabores com a sua afirmação e divulgação.
   Adormeceu para a eternidade em 1993.
   Um dos seus principais amigos e admiradores deixou-nos este testemunho. Precioso e belo. Para que conste.