segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O RELATIVISMO

   Quando pela primeira vez abri este livro, num rápido relance receei que fosse ler nele as habituais banalidades que usualmente se escrevem sobre esta temática. Mas um olhar atento ao seu conteúdo e à abordagem que nele se faz do mais relevante núcleo teorético da atualidade desfez todo o meu temor.
   De facto, embora se tratando de um arrazoado de cariz básico o seu autor não se deixou ficar pela superficialidade.
   Há vários tipos de Relativismo. O Relativismo normativo, baseado nas aproximações teóricas que, recuando aos antigos gregos têm em Montaigne, David Hume e Max Weber os seus maiores expoentes e remeteria no primeiro para as responsabilidades da socialização e das convenções culturais arbitrárias as nossas aproximações à realidade; no segundo para a ideia de um abismo que separaria o positivo do normativo não podendo a adesão a juízos normativos derivar de uma fundamentação objetiva. Max Weber, por seu turno, falou numa «guerra dos deuses» e no «politeísmo de valores». É claro que pode objetar-se que uma perspetiva culturalista esquece a distinção entre costumes, normas e valores e que uma qualquer abordagem normativa assenta sempre em principios indemonstráveis mas que podem ser considerados uns melhores do que outros e que dão todavia lugar a interessantes programas sociais.
   O Relativismo cognitivo tem como maiores expoentes Thomas Kuhn que postulou que os processos de seleção das ideias cientificas têm sobretudo um caráter irracional; e Karl Popper que falou nos critérios de distinção entre ciência e não-ciência fazendo radicar aquela na refutabilidade. Podemos dizer que este pensador não captou a verdadeira essência desta problemática pois existem teorias irrefutáveis de cuja cientificidade ninguém se atreve a duvidar. Por outro lado os critérios de cientificidade também devem contemplar a noção de utilidade. Porém muitos não crêem na total objetividade das construções cientificas. As mais importantes objeções que são aduzidas a este relativismo prendem-se com a distinção entre curto e longo prazo e com a argumentação que a faz depender da relação entre os critérios de cientificidade e a existência da própria cientificidade.
   Para explicar as crenças humanas aferindo o seu papel no processo de conhecimento são estas subdivididas taxonómicamente em três tipos consoante a sua relevância e forma de validação. A perspetiva cognitivista encara-as como o efeito de razões chamando a atenção para a transubjetividade e apresentando inúmeras vantagens face às teorias irracionais das crenças. Em última análise conclui-se que todas as crenças (cientificas e ordinárias; normativas e descritivas) derivam dos mesmos pressupostos e têm a mesma natureza. Tal facto desacredita um dos fundamentos do relativismo.
   A crítica do passado subjaz a todas as sociedades e em todos os lugares e frequentemente se encontra sujeita a oscilações de caráter subjetivo redundando a maior parte das vezes em análises facciosas carregadas das pulsões do observador. Este encara o observado de outras épocas e culturas sociocentricamente, eivado de obnubilosos preconceitos. Urge encetar uma análise descentrada na qual não se percam de vista as fragilidades igualmente evidentes e os aspetos míticos que também comporta a ciência do Homem atual. Isto não significa que por vezes não devam ser tidos em conta outras consequências práticas sob pena de tolerarmos o absurdo.
   Do século XX aos nossos dias forjaram-se duas espécies de teorias da evolução moral, social e política: o modelo mecânico (que encara as ideias como variáveis dependentes, mais a explicar que explicativas) e o modelo racional (que trata as ideias como variáveis independentes e por isso explicativas). É este último que explica a evolução moral das sociedades ao enquadrar o individualismo e a liberdade de pensamento na raíz do progresso normativo. A produção e seleção de ideias novas faz-se em função do individualismo tal como era defendido por Durkheim. Weber fala-nos na prossecução de um programa e na racionalização difusa à luz de um novo kantismo. Os progressistas desenvolvem ações no sentido de estebelecer regras mais eficazes visando um sentimento de legitimidade e de validade. Os direitos de terceira geração implicam a distinção entre racionalidade instrumental e axiológica. É claro que esta racionalização não conduz à uniformização.
   A evolução moral, social e politica pressupõe as noções de espectador imparcial e racionalidade instrumental e axiológica. O curto, médio e longo prazo e o seu devir giram em torno da racionalidade difusa. O bom relativismo enquadra-se nesta problemática à luz do respeito pelo outro. O mau relativismo regista a diversidade das normas e dos valores mas não tenta compreende-los. Desta compreensão depende o futuro próximo da humanidade.

  

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