Eram ambos pobres. A vida do tenente da G.N.R. João Tomás Carrajola vai cruzar-se com a de Catarina Eufémia naquele fatídico dia 19 de maio de 1954 nos campos de Baleizão no Alentejo.
Não é possível chegar a uma conclusão justa sobre se a arma que desferiu três tiros de rajada nas costas da infortunada mulher foi manipulada ou se se tratou de um lamentável acidente. Mas o processo judicial que então se despoletou parece não ter sido totalmente transparente. Os inquiridores parecem ter manipulado o interrogatório de modo a favorecer a tese do tenente. Muitas testemunhas não chegaram a ser ouvidas e elas teriam tido com certeza muita coisa para contar. O processo terá sido tendencioso e a defesa mostrou-se muito eficaz.
O Alentejo por aquelas alturas era palco de frequentes conflitos entre camponeses pobres e os dignatários do regime. O desemprego grassava por ali e a pobreza era o prato forte de populações analfabetas que sobreviviam da agricultura em especial da ceifa.
A guarda protagonizava inúmeras vezes cenas de violência das quais eram vitimas os infelizes cidadãos particularmente os mais indefesos e vulneráveis.
Estão presentes no livro importantes documentos como o relatório da autopsia que foi feita a Catarina e o acórdão que absolveu Carrajola. Também contem duas entrevistas, uma à filha da vítima e outra a uma amiga desta. Resume cronologicamente o historial de desmandos da G.N.R. perpetrados durante muitos anos.
Há versões desencontradas sobre se Catarina Eufémia teria de facto pertencido ao P.C.P. Uns dizem que sim, outros que não e outros ainda que se limitava a distribuir uns panfletos a pedido do marido. Seja como for o partido sempre gostou de alardear essa militância a ponto de erguer a camponesa num símbolo da resistência antifascista.
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