A escritora debruça-se sobre o que os russos esperavam que lhes coubesse na nova esperança de uma nova Rússia. A ilusão e a desilusão. A segurança e a certeza convertidas numa noite fria e cinzenta de tristeza e de saudade. Da magnificência de outrora. Do respeito e do temor inspirado aos outros. Da rotina que aquecia os corações e tornava aquela miséria suportável. Era o desmoronar de uma era. Que trouxe angústia e medo. Medo do desconhecido. Medo de se ser livre. Ânsia ao descobrir que não se sabia o que fazer com a liberdade. Revolta por não se conseguir controlar os acontecimentos que se sucediam a um ritmo alucinante e por se pensar que afinal talvez fosse preferível a rotina e o conformismo de outrora. Sentimentos contraditórios de alivio e temor. Vontade de resistir a uma colonização intelectual que humilha e subjuga as mentes mais sagazes. Ser dominado por ideais estranhos, alheios à cultura pátria e estar satisfeito com isso. Ver proliferar as futilidades burguesas e pensar que o socialismo se calhar talvez fosse mesmo isso, permitir que as futilidades proliferassem em pensamento, costumes e o acesso a toda a sorte de bugigangas. Pensar que talvez se estivesse errado... ou talvez não... Como se estivéssemos perdidos no meio da neve num dia de inverno e já com as pernas a fraquejar. Andar às voltas, tergiversando. Gaguejar. Praguejar. Afinal é isso: a União Soviética acabou.
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