segunda-feira, 16 de junho de 2014

CARTA DE GUIA DE CASADOS


   Escrito por um famoso moralista do século XVII não se sabe ou não se tem certezas a quem se dirigia mas parece ser um precioso manual de como governar o lar e ter em devida ordem a família.      
   Os amores são de diversa natureza mas não devem perder ninguém. A mulher deve ser modesta, não dada a muitos perfumes nem de muito falar. As suas amizades não podem ser um embaraço para o marido que é a cabeça da família. Rege-se de como se deve a mulher portar nas visitas à côrte e nas festas.
   As suas leituras devem ser castas para não lhes provocar devaneios e não devem ser propensas a adivinhações e beatices. Trata-se qual a regra sobre a amizade entre as casadas e as freiras que será evitada pois é causa muitas vezes de mexericos e desonras. A casa tem de ser mantida na ordem bem como as pessoas que circulam nas suas proximidades.
   O marido deve evitar gabar a sua esposa diante de terceiros visto tal ser sobejas vezes fonte de escândalos e suscitar aventuras e infidelidades. O casado deve acompanhar-se do casado e usará com parcimónia os jogos e as folias. Distingue-se o zeloso do cioso e aponta-se as diferenças e os perigos. O homem deve ter cuidado acerca dos segredos confiados às mulheres e imporá que a sua esposa se ocupe do governo da casa para não ter tempo para perder com tontices.
   Os bem-casados têm casa limpa, mesa asseada, prato honesto, filhos na ordem, esposa recatada e marido sempre presente.
   A prespetiva das relações sociais é de todo diversa da atual. Não nos atemos aos conceitos que são aqui propalados tendo-os como impróprios e ultrapassados. Mas a obra é um documento de época, precioso para analisarmos as conceções dominantes no Portugal de seiscentos. A mulher é encarada como submetida bem expresso na relevância dada à cultura das mulheres por um seu contemporâneo:

 «Deus nos guarde da mula que faz him
  e de mulher que sabe latim»